Visita de Bolsonaro ao Nordeste reforça a estratégia do “Não Olhe pra Cima” na sua campanha de reeleição

Em viagem pelo Nordeste, onde vem usando a máquina pública para fazer campanha - as provas disso podem ser reunidas nos diversos discursos dos ministros que o acompanham e despudoradamente clamam pela reeleição do presidente - Bolsonaro usa a malandragem retórica e dizendo que reconhece que é mal-educado e que fala muitos palavrões e tenta compensar seu estilo grotesco, com a afirmação de que não rouba. “Muitos me criticam dizendo que o presidente fala muitos palavrões. Fala sim, mas não rouba”. Não é bem assim. 

O esquema das rachadinhas nos gabinetes dos seus filhos,que configuram roubo entre outros crimes, teria sido desenvolvido e aperfeiçoado em seu gabinete durante os sete mandatos de deputado que exerceu até chegar à presidência. Tudo está sendo investigado pelo Ministério Público. 

Assim como negar que a terra é redonda e colocar em xeque a ciência na questão das vacinas contra a Covid19, Bolsonaro e seu grupo tentam passar a impressão de que tanto ele quanto seu governo não praticaram, nem praticam corrupção. Basta listar as diversas operações da Polícia Federal em órgãos e pastas da sua gestão, as investigações da CPI da Covid19 e os inquéritos que investigam os esquemas das rachadinhas nos gabinetes dos seus filhos, para constatar que se trata de uma retórica falsa e voltada para impedir que a população e seus seguidores vejam a realidade como ela é. 

Parafraseando o título de um dos filmes indicados ao Oscar este ano e que trata da manipulação da opinião pública através da comunicação, o bolsonarismo trabalha para que seus seguidores ´Não Olhe pra Cima` e vejam a verdadeira face de um governo que nega tudo que pregou e criticou duramente na campanha que elegeu seu líder. Para quem demonizou o Centrão fazendo campanha com paródias - …quem gritar pega Centrão, não fica um meu irmão - e hoje tem o grupo como principal pilar de sustentação do seu governo, fica difícil emplacar essa ideia de presidente e governo honestos. 

Viajar ao Nordeste e atacar seus adversários cumpriu um script de campanha, baseado em pesquisas qualitativas, e espera reduzir a rejeição de 60% que o presidente tem naquela região. Se vai dar certo, só as próximas rodadas de pesquisas podem avaliar. 

No filme do diretor Adam Mackay, essa estratégia é suicida e o final trágico. Aqui a tragédia já tem um saldo de mais de 635 mil mortes na pandemia e muitas delas resultado do ´Não Olhe pra Cima` que o bolsonarismo defende negando a ciência e propagando fake news sobre a pandemia. A lista do negacionismo é extensa, como a questão ambiental.

José Américo